26 janeiro 2010

A MEMÓRIA DE UMA ORGANIZAÇÃO POLICIAL

A memória é um conjunto de ações na organização para capacitá-la a preservar, recuperar e utilizar sua experiência (informação sobre sucessos e falhas passadas) e, assim, aprender por meio de sua própria história. As informações e o conhecimento novo adquirido pela organização devem estar disponíveis para serem utilizados em decisões futuras. Geralmente a forma como que as pessoas e setores desenvolvem suas atividades não é sistemática. Algumas vezes elas trabalham sincronizadas, porém, na maioria das vezes elas têm um foco e visão dos problemas bem diferentes, sem saber que o conhecimento e a solução existem na organização.
Euzenat (1996) explica que memória organizacional é um repositório do conhecimento e experiências do conjunto dos indivíduos que trabalham em uma organização, tendo por finalidade preservar o conhecimento, a fim de permitir a socialização, uso, reuso, inovação e transformação do mesmo. Pode ser comparada a uma rede virtual sobre o ser humano e à experiência dos mesmos (tácita ou representada explicitamente) disponíveis em uma organização.
A aquisição de conhecimentos na organização deve ser feita através da aquisição e circulação de informações numa rede de comunicação (STEIN, 1995). O autor afirma que nas mensagens pela rede de comunicação, a informação pode ser mantida por longos períodos, mesmo com pessoas entrando e saindo. O conhecimento compartilhado e os valores emergem destes contínuos processos de comunicação, contribuindo para o desenvolvimento de mapas cognitivos compartilhados.
Não existe ainda uma definição completa de memória organizacional. O senso mais geral para definir a memória organizacional está dirigido em como poder usar de novo uma experiência acumulada pela organização, também relevante àqueles esforços da organização, em considerar um repositório de informações que proporcione conhecimento como uma mistura fluida de experiência moldada, valores, informação de contexto, e uma estrutura para incorporar experiências novas pelo fluxo de informações (ATWOOD, 2002). Nas organizações a memória está embutida freqüentemente não só em documentos ou repositórios, mas também nas rotinas, processos, práticas, e normas. É a memória presente na cultura da organização.
A cultura se refere ao padrão de desenvolvimento refletido no sistema de conhecimento, ideologia, valores e regras. Ela é de considerável relevância para a compreensão das organizações e auxilia na formação de aspectos de funcionamento corporativo, estratégia, estrutura e a liderança da administração. Uma vez que entendemos a influência da cultura nos comportamentos, percebemos que a mudança organizacional é uma mudança cultural e que todos os aspectos da transformação corporativa podem ser abordados com essa perspectiva (MORGAN, 2006).
A memória da organização poderá permitir e suportar uma mudança gradual na maneira de as pessoas realizarem o trabalho, por meio das experiências precedentes e competências dos recursos humanos da organização. Assim, é um meio através do qual o conhecimento do passado é trazido às atividades atuais. Este processo facilita a identificação e a análise dos recursos organizacionais disponíveis e requeridos, contribuindo para a sua preservação e distribuição subseqüentes, favorecendo a construção de um repositório de conhecimento de acordo com a cultura, do contexto, dos objetivos pretendidos e das necessidades da organização (STEIN, ZWASS, 1995).

Carvalho (2003) exibe as quatro etapas do processo de criação do conhecimento, figura 2, para a construção da memória organizacional que surge pelo processo de armazenamento das informações.
No processo de captura e criação (Etapa 1) a organização vai explorar as fontes e produzir conhecimentos pela conversão dinâmica e externalização de seu conhecimento tácito. Ambos os conhecimentos, explícito e tácito, podem ser capturados e articulados de maneira colaborativa e participativa, no âmbito da organização. Durante o processo de criação do conhecimento, há interação entre conhecimentos existentes. Este efeito é particularmente observável se o processo de descoberta de conhecimento é aberto, colaborativo e participativo.
No processo de armazenagem (Etapa 2) serão selecionadas as metodologias e técnicas para codificação e armazenamento do conhecimento, visando ao uso de soluções reutilizáveis. Nesta fase pessoas e setores constituídos na etapa 1 deverão identificar e criar conceitos para representar o conhecimento em um sistema computadorizado. Para tanto, se faz mister escolher técnicas para codificação e representação do conhecimento, escolher ontologias apropriadas ao contexto, e definir, tecnicamente, qual o tipo de estrutura computacional suportará uma memória organizacional a ser construída.
Durante a distribuição e aplicação do conhecimento (Etapa 3) poderá se ter acesso a uma memória organizacional que servirá como um mecanismo de apoio para a implementação de soluções organizacionais e melhoria de práticas de trabalho, bem como possibilitará uma melhor definição dos objetivos estratégicos e táticos. Nesta etapa, é compartilhado conhecimento dentro de uma organização pessoas por grupos funcionais diferentes, que podem estar localizados, muitas vezes, em áreas diferentes da organização.
Na transformação e inovação (Etapa 4) cada aplicação dos conteúdos do repositório de conhecimento vai gerar informações e lições. Com base na experiência dos usuários do repositório, poder-se-á aprimorar o conhecimento organizacional, permitindo melhoria do processo de modelagem, bem como novas práticas de trabalho.
A maioria das organizações policiais não são funcionalmente integradas, são fortemente hierarquizadas e estruturadas como se fossem máquinas, isto é, organizações burocráticas. Os diferentes componentes de um sistema policial, em geral, são capazes de realizar suas tarefas e executar as atribuições específicas de forma separada, e frequentemente isto acontece devido às atribuições rigidamente definidas em normas. Embora possa haver aparente integração de esforços operacionais, algumas instituições trabalham de forma independente, compartimentando informações. Isto traz como conseqüência a formação de repositórios isolados, que no aspecto da gestão da informação, constitui grave obstáculo ao sistema como um todo.
A essência da teoria clássica da administração e de sua moderna atuação sugere que organizações devem ser sistemas racionais, tendo por objeto uma forma nos seus procedimentos para funcionar da maneira mais eficiente possível (MORGAN, 2006).
A eficiência de uma organização policial depende dos procedimentos de armazenamento e processamento de informações totais. Diante do volume de dados disponíveis e a complexidade das ações, dirigentes (Autoridades Policiais) tomam decisões processando informações com referência às necessidades e casos novos que surgem. As decisões estratégicas, o desenvolvimento de políticas e os planos, por sua vez, fornecem novos rumos para o processamento de mais informações e o desenvolvimento do processo precisa ficar mais eficaz em direção à propagação e distribuição do conhecimento.

ATWOOD, Michael E. Organizational Memory Systems: Challenges For Information Technology. Drexel University College of Information Science and Technology Philadelphia, PA. 2002. Disponível em: . Acesso em: 16/10/2006.
CARVALHO, F.S. Modelagem Organizacional e Gestão do Conhecimento: O Caso da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco. Recife. 2003. Disponível em: www.di.ufpe.br/~ler/trabalhos/tra_dissertacoes/FranciscoCarvalho_dissertacao.pdf. Acesso em: 16/10/2006.
EUZENAT, J. Corporate Memory Through Cooperative Creation of Knowledge Bases and Hyper-documents. Franca. 1996. Disponível em: http://ksi.cpsc.ucalgary.ca/KAW/KAW96/euzenat/euzenat96b.html. Acesso em: 13/08/2006.
MORGAN, G. Imagens da Organização. Editora Atlas. São Paulo. 2006.
STEIN, Eric W. Organizational memory: review of concepts and recommendations for management. International Journal of information Management, vol. 15, nº 2, pp. 17-32, 1995.
STEIN, E. and ZWASS, V. Actualizing organizational memory with information systems. Information Systems Research 6 (2), 1995.

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